Nuno Carvalho, nosso crítico português do Diário de Notícias, chorou com "O Impossível". Percebe-se pela forma forma como escavaca a emotividade do filme:
"O pior está mesmo no tom de incontinência sentimental que domina grande parte do filme (...)" [1]
A sugestão imagética da patologia intestinal (muito gostam eles de diagnosticar cineastas) é tão incidental como o discurso que a Anne Hathaway fez quando ganhou o Óscar de Melhor Actriz Secundária, com o musical "Os Miseráveis". Anne e Nuno, os dois tão genuínos que ela até já sabia que ia ganhar isto em 2005, quando fez o "Oliver Twist" com o Polanski, e que ele se borrou todo de compaixão a ver a canção final do Javert, e aprendeu com o medo que teve que lhe descobrissem os toalhetes. Ah, clássica repressão. No fundo, os dois tiveram receio de deixar as lágrimas à mercê da opinião pública per se. Desde quando é que um filme tem emoção a mais? Nem é isso coisa de cólon. É coisa de poeta, é coisa de coração.
Além disso, esperamos que o Nuno Carvalho se decida entre o seu caminho jornalístico e a sua carreira diplomática. Apesar de serem apenas cinco minutos a pé da Av. Liberdade até à Rua do Salitre, já anda a misturar os afazeres da crítica de cinema com as funções de embaixador de Espanha em Portugal.
"(...) que faz que o espectador passe ao largo do filme, sem nunca conseguir a sua adesão ou envolvência." [1]
O filme que anda nas bocas do mundo por ter batido o recorde de bilheteiras ali ao lado, afundando cargueiros como "Titanic" ou "Piratas das Caraíbas: Nos Confins do Mundo", sofre de um ataque pela imprensa internacional, que o dá como próximo do público espanhol. Nuno Carvalho vem defender os interesses do milhão e meio de gélidos espectadores espanhóis, fãs de "Brincadeiras Perigosas", que afinal apenas adoraram a mama dilacerada da Naomi Watts que aparece neste filme espanhol, e que, só por isso, querem que o Haneke faça o remake do remake, plano por plano, mas com esse efeito novo.
[1] Publicado no Diário de Notícias a 24 de Janeiro de 2013.