quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Parece impossível gostar deste filme



Nuno Carvalho, nosso crítico português do Diário de Notícias, chorou com "O Impossível". Percebe-se pela forma forma como escavaca a emotividade do filme:

"O pior está mesmo no tom de incontinência sentimental que domina grande parte do filme (...)" [1]

A sugestão imagética da patologia intestinal (muito gostam eles de diagnosticar cineastas) é tão incidental como o discurso que a Anne Hathaway fez quando ganhou o Óscar de Melhor Actriz Secundária, com o musical "Os Miseráveis". Anne e Nuno, os dois tão genuínos que ela até já sabia que ia ganhar isto em 2005, quando fez o "Oliver Twist" com o Polanski, e que ele se borrou todo de compaixão a ver a canção final do Javert, e aprendeu com o medo que teve que lhe descobrissem os toalhetes. Ah, clássica repressão. No fundo, os dois tiveram receio de deixar as lágrimas à mercê da opinião pública per se. Desde quando é que um filme tem emoção a mais? Nem é isso coisa de cólon. É coisa de poeta, é coisa de coração.

Além disso, esperamos que o Nuno Carvalho se decida entre o seu caminho jornalístico e a sua carreira diplomática. Apesar de serem apenas cinco minutos a pé da Av. Liberdade até à Rua do Salitre, já anda a misturar os afazeres da crítica de cinema com as funções de embaixador de Espanha em Portugal.

"(...) que faz que o espectador passe ao largo do filme, sem nunca conseguir a sua adesão ou envolvência." [1]

O filme que anda nas bocas do mundo por ter batido o recorde de bilheteiras ali ao lado, afundando cargueiros como "Titanic" ou "Piratas das Caraíbas: Nos Confins do Mundo", sofre de um ataque pela imprensa internacional, que o dá como próximo do público espanhol. Nuno Carvalho vem defender os interesses do milhão e meio de gélidos espectadores espanhóis, fãs de "Brincadeiras Perigosas", que afinal apenas adoraram a mama dilacerada da Naomi Watts que aparece neste filme espanhol, e que, só por isso, querem que o Haneke faça o remake do remake, plano por plano, mas com esse efeito novo.


[1] Publicado no Diário de Notícias a 24 de Janeiro de 2013.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Câmara Obscura, Semana 1

"[Woody Allen] aparece aqui ["Para Roma, com Amor"] como imi­ta­dor do seu cin­ema — como um amador." 


Felizmente que as unidades de saúde estão sempre preparadas. Um crítico de cinema português diagnosticou o realizador de Manhattan com esquizofrenia. O seu agente já veio desmentir, e Woody Allen decidiu fotocopiar-se a ele próprio a meio de 2011, mas a confiança nas pré-definições de uma Xerox dos anos 70 deixaram de fora das margens quase 50 anos de carreira, acabando por imprimir um estagiário de realização.

Alguém se atreve a adivinhar o nome do médico?


quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Welcome to the party, pal


Um bem haja a todos os cinéfilos, espectadores assíduos, e público ocasional! E também, claro, para os nossos carismáticos críticos de cinema portugueses, que conseguem manter o lirismo de um poeta prussiano do séc. XVI, ao declamar sobre a sétima arte.

Reunimo-nos hoje, e daqui em diante, num espaço dedicado ao exercício da dedução, interpretação forense e petrografia do sentido dos textos escritos pelos maiores representantes nacionais da arte-de-falar-sobre-filmes-o-mais-depressa-possível-assim-que-começam-os-créditos-finais-na-sessão-das-10-da-manhã-no-festival-de-Cannes.

Eles, pela paixão e liberdade de expressão. Nós, pela transparência e clareza gramatical que ainda moem o juízo aos nossos primos e irmãos mais novos, e pela erradicação dos idiomas codificados das resenhas críticas em que, no final, fica sempre uma pergunta por responder: "hã?"